quinta-feira, 8 de abril de 2010

LIVRO NADA MAIS DO QUE ISSO

Michel, o piloto da bicicleta, tinha dezoito anos e era carioca da gema. Não fã de arruaças e festanças como eu, mas gente boa. Adorava música, parecia que em suas veias corriam notas musicais. E realmente era um grande artista. Tinha cds de Mozart, Bach, Beethoven e outros que nem sei pronunciar. Passava noites inteiras dedicado à leitura da vida desses compositores. Trocou, várias vezes, um bom bate papo com os amigos num barzinho, por horas de música clássica ou MPB. Vá entender… Do seu companheiro antigo microsistem, ouvia seus cds, comprados com muito sacrifício por sua avó. Esses tipos de cds não se encontram assim facilmente, em qualquer esquina. Criado pelos avós, havia perdido cedo os pais, e talvez por isso era difícil fazer amizades, só aquelas de infância mesmo. Sua única amiga conselheira era Angela e seu piano, onde viajava e sonhava em suas teclas. Todos observam ele passar aqui pela rua com ela, para lá e para cá. Caladão nos cumprimentava por educação. - Vocês é que têm que me desculpar por atravessar a rua às pressas sem olhar. – se justificava George ajudando a colocar a bicicleta de pé. - Você é novo aqui no bairro não é? – perguntou a jovem Angela. - Sou, acabei de me mudar. E vocês, moram por aqui? – disse George com os olhos fixos na garota. - Moramos. Eu moro nessa mesma calçada no número vinte e dois. – continuava a moça. - Meu nome é George, prazer. Vou morar nessa casa em frente, número quarenta e oito. - O meu nome é Angela, e esse é meu amigo Michel. – disse ela com um lindo sorriso no rosto. Angela tinha completado quinze anos e era muito gatinha. Esguia de cabelos longos e pretos, olhos amendoados e uma pele naturalmente bronzeada. Seu sorriso refletia sua inocente feminilidade que passava de menina à mulher, sem claras fronteiras. Amiga de infância de Michel, o via como um protetor e ao mesmo tempo como alguém que necessitava de cuidados. Daquelas meninas que não têm papa na língua. Recordo-me de uma vez em que ela pulou o muro aqui de casa para fugir de sua mãe. Não só pulou meu muro como subiu no meu pé de amêndoas. Nem que se passem cem anos vou esquecer esse dia. Foi um sacrifício retirá-la de lá. - Angel, precisamos ir… – dizia Michel subindo na bicicleta ainda inteira. - Espera aí Michel. – disse Angela. – George, você já conhece alguém aqui da rua? - Ainda não. Me mudei hoje e… Eu não sou muito bom pra fazer amigos. – falou George sem jeito. - Não seja por isso. Já tem dois novos amigos. Bem vindo à nossa rua George! – concluiu Angela sorrindo e apertando a sua mão. - Vamos Angela. Depois você conversa! – interrompeu Michel ansioso. - Está bem, apressadinho! Prazer em te conhecer George. – se despedia Angela subindo na garupa da bicicleta. - Valeu e até mais… – concluiu Michel dando a primeira pedalada. - Tchau… – disse George vendo a bicicleta sumir no final da rua.

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