terça-feira, 2 de março de 2010

Otto faz show no Rio após seis anos e decreta: 'A principal notícia da música brasileira em 2009 foi o meu disco'

RIO - Se o assunto com Otto é seu último CD, o pernambucano gente boa fala em tom de desabafo, repetindo frases e atropelando palavras, quase sem respirar. Para o cantor, "Certa manhã acordei de sonhos intranquilos", um dos melhores álbuns nacionais de 2009, é bem mais que um disco. É o gol da virada.

- Levei paulada e fui ignorado por festivais durante anos. Parecia que todos diziam "esse cara não". Fiquei fazendo dois shows por mês para pagar aluguel. Há seis anos não faço show no Rio (onde mora desde 2002) - diz o pernambucano, que vai quebrar o jejum este sábado, no Circo Voador, e mandou avisar: - Estou sedento.

O compositor de 41 anos, que foi percussionista no Nação Zumbi e no Mundo Livre S/A e lançou seu primeiro disco solo em 1998 (o elogiado "Samba pra burro"), acabou com uma longa seca ao divulgar "Certa manhã...", em outubro de 2009. Ele não gravava um álbum em estúdio desde "Sem gravidade" (2003). Aquele seu terceiro CD recebeu péssimas críticas e agravou a relação do músico com a mídia, conturbada desde 2002, quando Otto se casou com Alessandra Negrini (os dois se separaram em 2008).

" A principal notícia da música brasileira no último ano foi o meu disco "

- Virei "marido de atriz famosa". Parece que as pessoas esquecem quem você é. Sempre fui comprometido com meu trabalho - critica ele, que, agora, dispensa a falsa modéstia. - A principal notícia da música brasileira no último ano foi o meu disco. E graças a Deus! Chega de perrengue. Artista no Brasil sofre muito. Já passei dos 40 e quero estabilidade.

Na conversa com a Megazine, Otto citou quatro vezes a reportagem que o jornal "The New York Times" publicou sobre ele em agosto de 2009. O texto falava do novo CD, então prestes a sair do forno, e destrinchava a fusão de ritmos regionais brasileiros e música eletrônica impressa no DNA do cantor.

Com título inspirado no livro "Metamorfose", de Franz Kafka, "Certa manhã..." chegou primeiro aos EUA e, quando aportou no Brasil, já turbinado por ótimas resenhas em inglês, foi recebido de braços escancarados. Gravado com uma banda fora de série - Fernando Catatau (guitarra), Dengue (baixo) e Pupillo (bateria e percussão) -, o álbum tem clima sombrio, cheio de letras sobre dor e belas melodias. Destaque para "Crua" e "Saudade", esta com participação de Julieta Venegas (os cantores Céu e Lirinha também estão no disco).

- Quero fazer música boa... Minha banda é a melhor do Brasil. Não estou fazendo "rebolation" - brinca o pernambucano.

O álbum foi bancado pelo próprio Otto. Ele usou as ferramentas mais básicas que encontrou e ia divulgar o trabalho só na internet mesmo. Mas as músicas foram vazando, e o reconhecimento o motivou a lançar o novo álbum também em CD.

- A internet é Deus. Tudo que mobiliza muito as pessoas, como o samba e o futebol, é religião. Hoje, o Deus é digital - filosofa.

Fonte: Jornal o Globo

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