sábado, 30 de maio de 2015

A melhor polícia do mundo...

Bem, amigos: falamos diretamente da final do concurso de melhor polícia do mundo. A competição chega ao seu desfecho com a apresentação do último concorrente, que vem de uma capital tolerante e morena, amada por todos. A prova derradeira consiste em encontrar um coelho num pequeno bosque. Com um avançado sistema de satélites, o FBI conseguiu achar o bicho em três minutos; a Scotland Yard e seus cães farejadores cumpriram a missão em dois minutos. Agora, lá vai mata adentro o inspetor Bigode, solitário representante da polícia morena. Haja coração!

E apenas 30 segundos depois, ele está de volta, conduzindo a presa, que apresenta diversas escoriações. É uma tartaruga! Mas esperem... vamos ouvi-la:

— Eu sou um coelho! Eu sou um coelho!

É tetraaaaaa!

Graça nenhuma tem polícia tragicamente real — a do Rio. Que fase! A investigação em torno da morte do médico-ciclista Jaime Gold na Lagoa patina numa sucessão inacreditável de trapalhadas, que conjuga imperícia, açodamento e vaidade. Sem qualquer consistência, os encarregados de apurar o assassinato a facadas, em plena Lagoa Rodrigo de Freitas, enfileiram declarações contraditórias, conclusões frágeis e até acusações mútuas. Só aumenta a incerteza sobre se um dia no futuro o distinto público conhecerá o assassino.



Mais de uma semana depois da trágica noite da terça 19 de maio, os policiais parecem seguidores da doutrina Chacrinha: vieram para confundir, não para explicar. Faltam elementos — muitos — para cristalizar a convicção de que o menor de 16 anos, velozmente apresentado como autor do crime, foi mesmo o responsável pela morte do médico. Os indícios oferecidos até agora têm a solidez do barro sob o temporal.

Para começar, observe a foto acima, feita numa noite de outono semelhante à do fato. Ela mostra o ângulo de visão, a partir do posto de gasolina onde estaria o frentista apontado como principal testemunha das facadas na vítima. No centro, ao fundo, está o lugar do assassinato. Dê um desconto à lente da câmera — o olho humano aproxima a imagem um pouco mais. Desta distância — quatro pistas da Epitácio Pessoa, mais o canteiro central — o observador teria conseguido avistar o criminoso a ponto de identificá-lo entre as fotos apresentadas na delegacia. (Note que o posto não fica em frente ao local exato do crime, mas numa diagonal.)

Ainda assim, o delegado de Homicídios, Rivaldo Barbosa, não se constrangeu em bradar o “caso encerrado” tão caro aos homens da lei, quando o adolescente de 16 anos foi apreendido. O atropelo é pai da barbeiragem — surgiu outro jovem, de 15, que primeiro teria confessado o crime e depois posto a culpa no acusado um ano mais velho. Em seguida, apareceu outro relato atribuído ao frentista: um dos jovens seria branco. Uma confusão só.

Além disso, faltam aparecer alguns elementos banais em investigações semelhantes. Segundo a polícia, o menor de 15 anos cruzou pedaço considerável da cidade montado na bicicleta roubada, até chegar à favela do Jacarezinho. Como não passou pelo Rebouças, deu a volta por Humaitá, Botafogo, Flamengo, Centro... Não deve ser difícil, a partir da hora do assalto, achar imagens de um jovem numa bicicleta caríssima, nas centenas de câmeras em operação pelo longo caminho. Mas até agora, nada.

Mesmo que tais evidências apareçam, ainda assim não estará determinado quem desferiu as facadas em Jaime Gold. Se os dois adolescentes eram assaltantes, trata-se de outro crime. A polícia carioca está obrigada a reunir provas que apontem o assassino do médico-ciclista. Tomara que consiga.

Até na própria instituição pipocam dúvidas. A delegada Monique Vidal, da 14ª DP (Leblon), responsável pela região da morte, disparou contra o trabalho do colega, num post em rede social. “(A testemunha) disse que não tinha condições de reconhecer (os responsáveis). No dia seguinte, já em outra DP (a DH) (...) reconheceu (um dos jovens) em fotos. Pois é, ele (adolescente reconhecido pela testemunha) não foi pego na noite (do crime). A tal testemunha foi ouvida (por policiais da 14ª DP na noite do assassinato) e não tinha condições de reconhecer ninguém. Enfim... Segue o baile...”

Pelo bem do Rio de Janeiro, crimes famosos e anônimos, contra ricos, pobres e remediados precisam ser esclarecidos, para que a Justiça possa prevalecer. O que jamais acontece com tartarugas no lugar de coelhos

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